Sorriso
13 . III . 2015
Treze de Março. Sexta-feira. Outro treze. Outra sexta. Quase fim-de-semana. Um sorriso. A correria. A escola. A greve. Não há escola? Casa de novo. Pequeno-almoço. A comida da Isabel. Maldita doença. Um sorriso. A medicação. O telemóvel. O iPad. O carregador. Onde está? Um sorriso. Ficas bem, filha? Vou trabalhar. O transito. As filas. A gasolina. Um sorriso. O trabalho. Os colegas. Os amigos. Os emails. Um sorriso. As notícias. Uma pausa. O almoço. Os pais. Um sorriso. Velhos e doentes. Precisam de ajuda. Mudam de casa. Levar coisas. Tralhas. Coisas velhas. Um sorriso. A correria. Atrasado. O tempo foge. O trabalho. Inquietação. Responsabilidades. Cansaço. Um sorriso. Um café. Tanta coisa em cima de uma pessoa. Um sufoco. Uma angustia. Inquietação. Preocupação. O filho. As filhas. Ficarão bem? Stress. Escrever. Pensar. Parar. Um sorriso. A Isabel. Incapacidade. Frustração. Uma loucura. Outra correria.
Um sorriso. Sempre um sorriso. A força de um sorriso.
Vou ali procurar-me. Encontrar-me. Procuro um pouco de paz. Já volto. Até já.
Um sorriso.
Então parece que a coisa é mais ou menos assim:
5 . III . 2015
- um antigo inspector da PJ, e também vice-presidente do Sporting foi detido por suspeitas de pertencer (ou mesmo liderar) a uma rede que assaltava residências, e fazia sequestros;
- um ex-primeiro ministro está detido em prisão preventiva acusado de corrupção, branqueamento de capitais e fuga ao fisco. Parece que os casos de corrupção envolveram esquemas de promiscuidade entre empresas de um amigo, favorecimentos a interesses privados, eventualmente do próprio e da familia, entre muitas outros crimes que se têm conhecido ao longo dos últimos meses; Hoje soube-se que este caso (conhecido por Operação Marquês) pode também ter ligações às PPPs rodoviárias e Parque Escolar;
- o actual primeiro ministro não pagou umas dividas à segurança social, alega que desconhecia que tinha de pagar, e agora argumenta ainda que ninguém espera que ele fosse um cidadão perfeito, e que tudo isto é uma espécie de cabala por causa das eleições;
- O antigo ministro da saúde Arlindo de Carvalho e o ex-banqueiro Oliveira e Costa começam hoje a ser julgados por burla, abuso de confiança e fraude fiscal, num processo extraído do caso BPN;
- A Portugal Telecom desvalorizou em bolsa cerca de 90% devido a erros de gestão, mas parece que no mesmo período os accionistas e gestores levaram para casa cerca de 35 mil milhões de euros em dividendos e prémios de gestão;
E depois admiram-se que os portugueses prefiram ler a imprensa dita “cor-de-rosa”. Os casos são aparentemente tão surreais como estes, mas sempre têm a vantagem de os personagens serem mais divertidos (tipo jogadores de futebol, actrizes ou modelos).
Nota: todas estas notícias são mencionadas num único jornal (o i, na sua edição de hoje), pelo que se pegasse noutros jornais a lista ainda aumentaria, mas acho que isto já é suficiente para um só dia…
O que vale é que vem aí a Primavera!
Extractos de mais uma entrevista-comédia ao Dr. Araújo.
14 . II. 2015
Claro que eu confio na justiça. Se você não confiasse na RTP ficava sem comer, não era? Olhe, meu caro, e eu gosto muito de comer. Não se vê logo pela minha barriga?
Há duas coisas em que eu confio, na justiça e no SNS. Não quer dizer que as vezes não se esqueçam das tesouras na barriga das pessoas, ok?
Não, isto de terem prendido o engenheiro não e' uma loucura. Nas histórias da loucura nunca acredito. Salvo a minha, claro. O problema e' que eu só sei aquilo que me mostraram, e o que vou sabendo por portas e travessas pouco fiáveis.
A detenção ou a prisão? A prisão e' inútil e injustificada. E ilegal. A detenção também foi inútil, mas enfim.
Enquanto isto for normal eu uso os meios ordinários. Se isto passar a ser um processo extraordinário, então eu uso os meios extraordinários. Incluindo o habbeas corpus. Sou um advogado muito normal, ou seja ordinário.
Eu tenho 40 anos quase desta triste vida. E nunca tive perante um processo tão insalubre, tão mal são. Mas não tiro nenhuma consequência. O que não quer dizer que amanha não tire. Agora estou só a ver. Eu vejo muito...
De repente, de repente não, no momento adequado, aparecem fenômenos coincidentes no tempo que me deixam inquieto. Primeiro, o procurador iria fiscalizar o sorteio. Depois, o sorteio não correu bem, houve uma falha do sistema, do, do... do sistema. Eu não acredito... As 9 da manhã não fizeram o sorteio. E depois fizeram a 1 hora em vez de as 4 horas. E eu soube pela rádio, já viu?
Eu não quero chegar a ponto nenhum. Acredito que ele vai ser libertado, nem vejo como e' que pode ser diferente. Não acredito noutra hipótese.
Isso era dantes. Dantes e' que invalidava o recurso. Antigamente. Agora já não. Antes continuava-se a paródia. Agora, a reavaliação já não invalida o recurso.
As cabeças dos juízes não são tão transparentes como possa parecer. Se e' que eles tem cabeça, o que não está provado. Veja bem, há uns garotos que escrevem num blog fechado. Eu não o posso visitar. Eu chego lá e perguntam-me se sou juiz. Mas sei o que lá se passa. Vou ler um pouco, mas não me filmem por detrás. Convivem lá animadamente juízes e procuradores desta república. Isto está a estragar a justiça.
O juiz Carlos Alexandre não e' um deles. Ele tem um defeito: trabalha imenso. O que e' uma chatice. Agora os garotos que invadiram os tribunais entretém-se com estas parvoíces em vez de despachar os processos.
Quanto e' que o outro emprestou? Sei lá. Nem quero saber. E não e' uma operação ilegal, e' um empréstimo dum amigo. São assuntos da vida privada dele. Não e' coscuvilhice, são assuntos da vida privada. Ninguém está interessado em saber quanto dinheiro e' que ele deve...
As malas já faleceram. Estão mortinhas. Agora só há envelopes.
Eu não conheço nenhuma escuta em que tenha usado "fotocópias" para dinheiro. Não se diz euros, diz-se paus. Você diz euros? Eu digo paus, e' mais giro. Fotocópias também e' giro.
Não há amigos assim? Que compram as casa das nossas mães? Claro que há! Eu não tenho nenhum assim, mas já tive.
Se acharem que devem investigar investiguem. Desde 2005 que investigam a vida do engenheiro. Há 10 anos que mataram o rei D. Carlos e ninguém investigou corrupção, só agora. Que raio de investigação e' está? O que e' que andaram a fazer?
A corrupção teria havido entre 2000 e 2005. Não houve, mas se houvesse. Ele ainda esteva no governo do eng. Guterres. Podiam ter começado em 1957, que foi quando ele nasceu. Ou então no século XViii, que foi quando eu nasci. Acho, mas se calhar estou enganado. Isto de Angola não tem interesse nenhum. Se isso fosse crime, então metade do pais estava preso. E a outra metade ia a caminho.
Tráfico de influências sim, corrupção nunca. A prova do crime e' o facto de ele estar na prisão.
Claro que não me deram a informação toda, isso não deram. Se e' por pirraça ou se e' porque não gostam de mim, isso não sei. Mas não deram. Para eles o segredo e' a alma do negócio.
O que eu digo e' uma questão técnica. Os advogados dizem assim: "eu não matei, mas mesmo que tivesse matado, não matei de boa vontade". Foi mesmo de má vontade, pá. O jornalista ou e' malandro ou e' burro.
Isto e' um inquérito sem objecto, por isso posso perturba-lo a vontade. Ora essa. O que o engenheiro fazia não tem qualquer utilidade. Se calhar tem para ele. Agora para mim e' que não tem nenhuma. Quem e' que faz um inquérito sobre uma coisa que não tem utilidade?
Se me ouvissem durante ano e meio, de certeza que eu ficaria envergonhadíssimo com coisas que disse, ora essa. Uma pessoa ao telefone diz muita coisa. Ah, de certeza que o engenheiro disse coisas que eu não conheço.
Articular a defesa com a do eng. Santos Silva? Não. Eu até gostava de falar com a advogada, mas ela não me liga. Olhe fica aqui o apelo, se ela ouvir.
Deixe-me dizer isto. O engenheiro estava feliz e contente em Paris, com o seu advogado, que por acaso sou eu. Tivemos lá, almoçamos pessimamente, e viemos para Lisboa, e ele veio para ser preso. Veio para ser detido porque confia na justiça. Ele podia ter ido para a Bolívia e dizia "já não volto!". Simples.
Se eu era amigo do engenheiro? Sim, tratei-lhe duns assuntos e a' família, e como estava ali a mão, o homem escolheu-me para tratar disto. Mas ele se calhar pensou: "como eu estou inocente, qualquer coisa basta" e escolheu-me a mim.
Sim, tinha já uma pequena amizade com ele, mas não e' daqueles amigos a quem eu empresto dinheiro... Mas sou socratista, ele foi certamente o melhor primeiro ministro desde o Marques de Pombal. Dr. Salazar incluído. Por isso e' que se gerou este ódio geral.
Isto e' o processo da minha vida? Não, isto não tem nada de notável. Tive muitos processos melhores, ora essa. Isto só da chatices de entrevistas como está. Isto e' simples, e' só abrir o código.
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